Por duas vezes na minha vida, tive a honrosa e difícil missão de dar continuidade a trabalhos musicais iniciados pelo grande e estimado Edu Lobo. A primeira vez foi em 1980, portanto há 35 anos, quando substituí Edu na direção musical, arranjos e criação da música de cena para a peça Calabar (Chico Buarque e Ruy Guerra), que havia ficado seis anos interditada pela (com licença da má palavra) censura.
A segunda foi agora em 2014, com a música deste Os Azeredo Mais Os Benevides, e mais uma vez por causa da maldita censura. Só que, desta feita, não falo só da censura sobre a arte: falo do golpe militar de 1964, que censurou o país inteiro, censurou o povo, censurou suas lutas, censurou minha juventude e os sonhos de uma geração que esperava inaugurar o Teatro da UNE exatamente com esta peça de Vianinha, para a qual Edu Lobo (com 21 anos incompletos) havia composto apertas o tema inicial, Chegança, que depois se tornaria referência na música brasileira. O teatro e a UNE foram incendiados pelos golpistas na própria madrugada de 1° de abril e a peça ficaria ausente dos palcos profissionais até o corrente ano de 2014. Ao que se sabe, Edu não chegou a compor nenhum outro tema para Os Azeredo… e, cinquenta anos depois, o locutor que vos fala foi chamado para completar o que faltava, tendo de colocar música não mais numa peça de teatro, mas no próprio sonho interrompido de uma geração. (M.V.A.)
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